Reportagem Especial | Mais de 90% das 42 mil empresas do Maranhão são pequenos negócios
Os dados são do Boletim Empresarial da Jucema, elaborado trimestralmente em 2024.
por Lucas de Araújo
Por trás de um produto inovador e, genuinamente, maranhense, há uma história de força de vontade e disposição do empreendedor Luiz Henrique Cruz, narrada por ele, como: “sucesso assombroso”, ao ver suas vendas saltarem. Preparados à base da tapioca, seus produtos viram fritas crocantes e recheadas, em variados sabores. O empresário mantém sua pequena fábrica Fritas de Tapioca no bairro Cohatrac IV, em São Luís.
Henrique, como é conhecido, contou que sempre teve uma mente empreendedora. Logo, abdicar de seu emprego na Vale do Rio Doce, para começar a investir no seu próprio negócio, ampliou, para ele, novas formas de empreender e contribuir para a economia local. “O empreendedor nasceu dentro de mim”, destacou. Atualmente, é formalizado como Microempreendedor Individual (MEI) e, aos domingos, vende seus produtos na Feirinha São Luís, localizada na Praça Benedito Leite.
São Luís ganhou os holofotes do seu produto. “O preparo das fritas de tapioca é rápido, inclusive, faço encomendas para restaurante, hotel e hamburgueria da cidade. O lucro é ótimo, e hoje sobrevivo do meu empreendimento, com sua grande vitrine instalada na ‘Feirinha São Luís’”, comentou. O ano era 2019, quando ele teve dois sonhos consecutivos, em que criava um produto inovador para desbancar a batata frita. Então, a fim de colocar essa ideia em jogo, o empresário gastou, em média, cerca de 200kg de tapioca, até chegar no auge da receita ideal.


Três anos depois, participou da Feira do Empreendedor, promovida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Rapidamente, teve seu estoque de fritas de tapioca preparado para os quatro dias do evento vendido em menos de 4 horas. “Isso me empolgou e encheu meus olhos de lágrimas”, expressou Henrique, com emoção.

Registro de uma marca histórica aos pequenos negócios
De acordo com o Boletim Empresarial, documento elaborado pela Junta Comercial do Maranhão (Jucema), de janeiro a setembro de 2024, foram registradas 42.327 empresas abertas no estado, enquanto que, no mesmo período de 2023, foram contabilizados 40.402 empreendimentos formalizados, representando um aumento de 4,7%. Dessa totalidade de formalizações, 40 mil correspondem à micro e pequenas empresas, ou seja, os pequenos negócios representam 95% de formalizações realizadas pela Jucema.
Além disso, o levantamento apontou ainda que, em setembro de 2024, o Maranhão alcançou a marca de 438 mil empresas ativas, sendo o setor de comércio o que mais concentra empresas em atividade, seguido do setor de serviços e indústria. Mercadinhos, restaurantes e lojas de roupas estão entre as atividades do setor de comércio mais procurados pelos empreendedores.
O panorama empresarial das cidades maranhenses também sinalizou que, São Luís, foi o município com o maior número de abertura de empresas com mais de treze mil formalizações. Em seguida, estão Imperatriz, São José de Ribamar e Balsas. Já as cidades com maiores taxas de crescimento de novos negócios, são Santa Inês – com um aumento de 28%, em relação ao ano de 2023; Balsas, com 13,3%; e Açailândia, com 9,4%.
Em uma entrevista concedida ao Jornal Pequeno, o presidente da Jucema, Sérgio Sombra, destacou a importância das micro e pequenas empresas para o desenvolvimento da economia maranhense. “As micro e pequenas empresas são uma alavanca da economia no Maranhão. Por isso, é imprescindível a continuidade de investimentos na melhoria do ambiente de negócios, diminuindo a burocracia, incentivando a competitividade e produtividade desses segmentos. Principalmente, na geração de empregos”, afirmou.
A principal força da economia local
Os pequenos negócios desempenham um papel central na economia maranhense. A busca pelo sucesso no mercado é um dos grandes anseios de todos os empreendedores. A título de exemplo, Henrique personifica a história de muitos dos microempreendedores individuais do Maranhão. Apesar dos estragos devastadores causados pela pandemia, o MEI impulsionou o crescimento das taxas de empreendedorismo no país, culminando em uma virada de chave para muitas pessoas que empreendem para sobreviver.
Desenvolvido para incentivar a formalização de pequenos empreendedores, oferecer um regime tributário simplificado e proporcionar benefícios como cobertura previdenciária, o programa “MEI” permite que trabalhadores autônomos e pequenos comerciantes se formalizem como empresários individuais.

O MEI é um empreendedor que saiu da informalidade para a formalidade, o que não implica que tenha garantias do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Ademais, os microempreendedores são responsáveis pela geração de emprego e renda, uma vez que movimentam a economia local. A formalização, conforme explicou o economista Danilo Pereira, é uma releitura de empreendedores que antes não estavam inseridos no mercado de trabalho. Também apontou o principal motivo que estimula as pessoas a empreender. “Na região Nordeste, quando as pessoas perdem seu emprego, buscam a informalidade para não ficar sem o pão de cada dia. Portanto, a formalização na condição de MEI é uma alternativa para que essas pessoas continuem contribuindo para a seguridade social”, esclareceu.
O processo de formalização é feito on-line, por meio da Receita Federal do Brasil, com a emissão do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) para o funcionamento da empresa. Para tanto, conhecer as vantagens, os benefícios e as obrigações que o trabalhador terá na condição de MEI é fundamental. “O microempreendedor individual tem a possibilidade de se aposentar – garantindo uma renda futura – e, ainda assim, continuar movimentando a economia”, informou.
Segundo Pereira, pessoas formalizadas na condição de MEI têm seus direitos assegurados, mediante ao pagamento mensal da Guia de Recolhimento de Receitas da União (GRU), documento instituído pelo Ministério da Fazenda para recolhimento das receitas de órgãos, fundos, autarquias, fundações e demais entidades integrantes dos orçamentos fiscal e da seguridade social. “O empreendedor informal não recolhe tributos; já o empreendedor formalizado, recolhe tributos, aumentando a arrecadação de poderes públicos”, finalizou o economista.
Isso significa que trabalhadores na informalidade, como ambulantes, ficam isentos da cobrança da Contribuição sobre Bens e Serviços, que é federal, e do Imposto sobre Bens e Serviços, que tem competência estadual e municipal.


O diferencial está no ‘coração’ do atendimento
Para a analista técnica do Sebrae, Paula Waldira Bastos Ferreira, o crescimento do número de pequenas empresas e MEIs no estado é uma oportunidade para os empreendedores aprimorarem suas habilidades e, ainda, fortalecerem suas relações com clientes. “É essencial que os empresários internalizem a necessidade constante de capacitação e busquem melhorar o atendimento para construir vínculos duradouros com seus clientes”, salientou.
Segundo Paula, o relacionamento com clientes precisa ser multicanal e, fazer uso de tecnologias de mídias digitais, é imprescindível para alavancar as vendas. “A maioria das empresas hoje vende pelo ‘WhatsApp’, que conta, inclusive, com uma versão voltada para negócios, a ‘business’. É usada por uma grande parte dos empreendedores, como um poderoso canal de vendas. E ainda outras plataformas, como ‘iFood’, ‘Shopee’”, pontuou a especialista do Sebrae no Maranhão.
Pequenos negócios e grandes resultados
O Sebrae registrou um crescimento recorde em seus atendimentos, ultrapassando 60% até julho de 2024, no Maranhão. De acordo com a instituição de apoio ao empreendedorismo, foram contabilizados 473.079 atendimentos a empresários e potenciais empreendedores do estado. O dado representa um incremento de 63,19%, em relação ao mesmo período de 2023, que registrou 289.896 – ou seja, uma diferença de mais de 180 mil.
A maior parte dos clientes foram atendidos presencialmente, com um discreto crescimento no quantitativo de clientes atendidos por meio de serviços digitais do Sebrae, passando de 54.842 em 2023 para 56 mil em 2024, considerando só os sete primeiros meses de cada ano.
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Ficha Técnica
Produção e Texto: Lucas de Araújo
Fotos: Lucas de Araújo e Raul Monteiro
Revisão e Web: Saylon Sousa
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