Reportagem Especial | HealthTech Maranhense combate o Burnout com IA e Liderança Feminina
por Maria Ruth Sousa
Nascida no Maranhão, a Dayaht é uma startup que une inteligência artificial e neurociência para combater o Burnout, especialmente entre mulheres. Liderada por uma equipe feminina, a empresa é um exemplo de inovação, transformação digital e empoderamento no cenário de pequenos negócios do estado. Reconhecida oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, a Síndrome de Burnout é caracterizada por um esgotamento físico e mental extremo, perda de motivação e sentimentos de ineficácia, resultantes de um estresse crônico no ambiente de trabalho.
Dados alarmantes comprovam a dimensão do problema no país. Em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou que mais de 70% dos atendimentos por Burnout foram de pacientes do sexo feminino. Em 2024, os afastamentos por transtornos mentais, que incluem o Burnout, também reforçaram essa disparidade: mulheres representaram 63,8% das 472 mil licenças concedidas por doenças psicológicas no Brasil, segundo o Ministério da Previdência Social.
Essa prevalência acentuada é um reflexo de uma complexa teia de fatores sociais e profissionais. Historicamente, as mulheres frequentemente acumulam as responsabilidades do trabalho remunerado com a maior parte das tarefas domésticas e o cuidado com a família (filhos, idosos). Pesquisas indicam que mulheres que trabalham em tempo integral realizam 22% mais trabalho doméstico e de cuidado não remunerado do que homens na mesma condição. Essa sobrecarga de “carga mental feminina” é exaustiva e um dos principais gatilhos para o esgotamento. As Mulheres ainda enfrentam desafios como falta de reconhecimento, menores salários (mesmo em igualdade de função), vieses de gênero que desvalorizam sua produtividade ou liderança. Isso contribui para um ambiente de trabalho mais estressante e menos recompensador emocionalmente.

A pandemia de COVID-19 exacerbou a situação. Com o trabalho remoto, as barreiras entre vida pessoal e profissional se diluíram, e muitas mulheres viram suas responsabilidades domésticas e de cuidado aumentarem drasticamente, intensificando a sobrecarga. O impacto do Burnout vai além do bem-estar individual, afetando a saúde física (insônia, dores crônicas, problemas cardiovasculares) e a capacidade produtiva, gerando prejuízos significativos para as empresas e para a economia como um todo.
Um levantamento realizado pela startup Dealist por meio do Sebrae Maranhão no Estado, revelou que a maioria das startups (40% do total pesquisado), atua com negócios do tipo B2B (modelo de vendas entre empresas) e B2B2C (modelagem de negócios entre empresas e destas ao consumidor final). O maior número são do tipo Edtech (35%), seguidas das Agrotech (25%), de startups de Turismo, Healthtech, Greentech e Foodtech, com 5% cada um, e as restantes, que representam 20% do total pesquisado, atuando em outros segmentos.
No Maranhão, embora dados específicos sobre a prevalência de burnout feminino ainda sejam escassos em pesquisas abertas, a realidade nacional de sobrecarga e desafios enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho e em casa certamente se reflete no estado. Nesse contexto desafiador, surge iniciativas como a Dayaht, uma healthtech criada no Maranhão que utiliza a inteligência artificial e a neurociência para oferecer suporte à saúde mental, com um olhar atento à realidade feminina.
A CEO E CTO da Dayaht, Samira Nogueira, cursava Mestrado em Portugal no ano de 2020, quando teve uma crise de pânico. Do isolamento, veio a ideia de uma alternativa para o combate à Síndrome de Burnout, que acomete 25% a mais de mulheres em comparação aos homens: “A Dayaht surgiu quando eu morava em Lisboa, Portugal. Eu fazia mestrado em estatística e informação pela Universidade Nova de Lisboa. Trabalhava como cientista de dados em uma startup. E eu estava lá durante o início da pandemia, em 2020. Quando houve o lockdown, eu tive um ataque de pânico no meio do trabalho. Fiquei muito preocupada, insegura, de perder meu emprego lá, porque eu que me sustentava lá, trabalhava, pagava meu mestrado. Então, tudo isso caiu como uma bomba. E como eu não podia sair, nem voltar, e tinha que ficar lá, eu tive que cuidar da minha saúde mental. Então, eu não tive opções, né? Então, eu tive a única escolha, era cuidar de mim mesma. E eu fui descobrindo algumas terapias, terapias integrativas, principalmente conteúdos de psicólogos alternativos que eu pudesse incluir na minha rotina, porque eu não tinha dinheiro suficiente para pagar uma terapia com psicólogo, então eu tive que buscar alternativas foi aí que eu consegui de fato me equilibrar emocionalmente, ficar bem. Eu passei por uma profunda transformação pessoal na qual eu não me identificava mais com o mercado de trabalho. E a minha escolha de focar em mulheres, foi que eu morava em uma república e às vezes eu dividia com homens. E eu via, percebia que a mulher brasileira, não só é mulher brasileira, a mulher em si, mas quando ela é lá fora é muito estigmatizada, sexualizada. Então eu sentia na pele como que isso me afetava. Só por você ser mulher, você já nasce estigmatizada, já nasce com questões, com uma sobrecarga que você nunca pediu então eu decidi focar em mulher porque tem questões que a gente passa que é comum a todas então foi assim o surgimento da Dayath”, contou.

A Dayath possui uma IA generativa, chamada Dayana, que tem o objetivo de se comunicar de uma forma assertiva. Samira explica também que todo o conteúdo da IA foi desenvolvida e treinada por um time de psicológas: “A Dayana, ela é uma IA generativa. A gente tem, desde que a gente começou, nós produzimos bastante conteúdos, fomos ao mercado, entendemos a nossa persona, e a partir desses conteúdos que a gente entendeu, nós criamos uma personalidade para a Dayana, para poder se comunicar de uma forma assertiva, com acolhimento com essa mulher, que é o nosso foco, e ela aprende através do conteúdo que a gente compartilha com ela. Tudo que foi conteúdo montado por psicólogas, tudo que ela responde, ela interage, é baseado no conteúdo nosso que foi criado por nós, para que ela possa responder. E os dados, a gente está numa fase de entender a evolução do usuário. Então, a gente tenta entender qual é o perfil dela, se ela é mãe, qual é a rotina dela, as preferências dela, justamente para hiperpersonalizar os conteúdos. Então, por exemplo, a mulher que ela é mãe e trabalha, o conteúdo vai ser um pouco diferente da mulher que só trabalha e estuda, porque tem outras realidades, tem outras questões que perpassam a rotina de cada mulher”, explicou.
O Gerente de Inovação e Tecnologia do Sebrae Maranhão, César Guimarães, falou sobre o apoio e capacitação oferecida pelo Sebrae a empreendedores que estão iniciando uma startup ou querem impulsioná-la: “O Sebrae oferta para esses empreendedores capacitações, consultorias, palestras, oficinas, tudo isso dentro de uma grande plataforma chamada Sebrae Startups. O empreendedor que tem interesse em iniciar um negócio inovador pode se apoiar em algumas dessas ferramentas. Essa plataforma, além dela concentrar as primeiras orientações para esses empreendedores, ela dispõe de uma série de ferramentas, de parceiros, que podem ajudar no impulsionamento desse negócio. Fora isso, o Sebrae também trabalha com programas coletivos de startups. O programa principal aqui no estado é o Startup Nordeste, onde o Sebrae oferece uma jornada de seis meses de pré-aceleração e seis meses de aceleração, dando orientações para a estruturação desses negócios e fazendo a conexão com o mercado. Além de toda a orientação técnica para os empreendedores, o Sebrae tem uma parceria forte com a FAPEMA, onde através dessa parceria é concedido um apoio financeiro através de uma bolsa, a bolsa sócio empreendedor, que oferece um suporte financeiro de R$ 39 mil para que esses empreendedores se dediquem integralmente ao desenvolvimento dessas startups. Nós temos também duas iniciativas que apoiam o desenvolvimento de negócios inovadores e startups, porém de forma segmentada, através de programas de bioeconomia, como o Inova Amazônia e o Inova Cerrado, que são biomas muito importantes e que oferecem muitos insumos para que esses empreendedores desenvolvam produtos e serviços tecnológicos focados em bioeconomia. Além desses programas segmentados, o próprio Sebrae Tech dispõe de muitas fichas de consultorias tecnológicas que os empreendedores podem se apoiar para aperfeiçoar as suas empresas. Desenvolvimento de aplicativos, desenvolvimento de e-commerce, planejamento para inovação, desenvolvimento de identidade visual, brand layout, enfim, uma gama de serviços que o Sebrae coloca à disposição para que os empreendedores possam colocar conhecimento, planejamento nas suas estratégias se desenvolverem”, pontuou.

A história da Dayath é um testemunho poderoso da capacidade humana de transformar adversidade em inovação. Ao unir o espírito empreendedor à sensibilidade para um problema social urgente – o burnout, especialmente entre mulheres que enfrentam ou enfrentaram a violência –, a Dayath não apenas criou um negócio, mas inaugurou um novo caminho para a saúde mental e o bem-estar.
A inteligência artificial, longe de ser uma ferramenta fria, emerge como uma aliada fundamental na recuperação e no suporte personalizado. Ela permite que o acolhimento chegue a quem mais precisa, de forma escalável e empática, superando barreiras e oferecendo um porto seguro para mentes exaustas. O impacto de uma iniciativa como esta transcende o individual, inspirando a construção de um futuro onde o amparo e a resiliência são acessíveis a todas.
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